domingo, 29 de abril de 2012

Canto da Vida


Disse o mestre poeta:

“Escuta o canto da vida. Busca a flor que deve abrir-se durante o silêncio que segue à tormenta, não antes".

A vida é todo um canto que se eleva na grandeza do silêncio para que tenha sentido e meta definida. A voz que na solidão se levanta e se alimenta do amor tem, realmente, o que dizer ao mundo para guiá-lo e consolá-lo.

Tem tudo a dizer a quem quiser ouvi-la.

A flor que, depois da tormenta se abre, é a única que conhece a eternidade, como se dela nascessem, uma após outra, todas as verdades. De repente, luz e flor são uma em plenitude, rompendo as pequenas fronteiras que o homem comum não ousa transpor. E toda a realidade emerge do fundo do lago onde a vida guarda sua origem.

Então, e só então, o canto se faz próprio e se define.

Guarda-se o diálogo, a consulta, a busca, as andanças, perguntas e embaraços. Guardam-se as palavras difíceis e os períodos longos.

A verdade é reta e curta.

Quando nada mais resta a indagar, fica o silêncio puro e inalterado, dono da solução de todos os mistérios. E, na quietude aprende-se a importância do que é simples e permanente.

E então, o jade aguarda teu chamado.

Adormecidas ficam as incertezas e dúvidas, como se diante do silêncio nada restasse senão o esperado encontro.
- Pois quem somos nós então, para querermos nos proteger nos caminhos da vida?

Basta apenas a sondagem das meditações para que o silêncio nos entregue a conquista do mais íntimo, do mais presente. E todas as mensagens cifradas perdem seu valor quando se faz a entrega para que o dia seja apenas de revelação.

Por isso sente-se que, a cada hora, as palavras vão ficando menores, superadas em seus conteúdos, em suas indicações.

Só o silêncio tem um canto novo e sempre renovado como o de Tagore:

“No dia que se abriu a flor de Lótus, pobre de mim! Vagava por aí o meu espírito e eu não o soube. Estava vazia a minha cesta e a flor ficou abandonada. Apenas, de vez em quando, descia sobre mim uma tristeza e eu despertava do meu sonho e sentia, no vento que vinha do sul, a sombra suave de um perfume estranho...”